Ópticas na rua?

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Desde 1998, Portugal investiu mais de cinco mil milhões de euros em centros comerciais. De acordo com o economista Manuel Caldeira Cabral, em apenas dez anos a área mercantil lusa passou de cerca de um milhão de metros quadrados para mais de três milhões, devendo ultrapassar os três milhões e meio no final de 2009. Este ‘boom’ de grandes superfícies comerciais alterou profundamente os hábitos de compra e o comportamento dos consumidores, situação que acarretou consequências devastas para o comércio tradicional.

O aumento de ‘shoppings’ coincidiu também com um baixo investimento na reconversão dos centros citadinos. Isto levou a que várias metrópoles portuguesas assistissem ao decair do comércio nos seus centros históricos e cívicos. Deste modo, segundo alguns profissionais do ramo óptico, o cliente acaba por se desviar das lojas de rua e adapta as suas necessidades à oferta do grande comércio, a um conjunto de opções que se sobrepõem ao que existe no chamado comércio tradicional. “No centro comercial, a adesão de público revela-se maior graças à oferta em termos de estacionamento, horário e segurança. De facto, a loja de rua é mais propensa a assaltos, principalmente durante a noite”, referiu Isaú Maia, da Óptica Maia, sedeada na freguesia da Amora.


No entanto, para Maria Adelaide Penedo, presidente do conselho de administração do grupo Optivisão, a par de alguns aspectos negativos, “a abertura das primeiras lojas em centros comerciais constituiu o início da modernização do comércio a retalho. Os lojistas “obrigaram-se” a actualizar os seus estabelecimentos e a alargar os horários para cativar os clientes. Além disso, depois da criação dos centros comerciais, a inauguração de ópticas nesses espaços transformou-se num processo natural, como o de farmácias e muitas outras actividades e serviços”.


Já Emídio Rodrigues, dirigente da Ergovisão, esclareceu que é necessário ter em conta vários aspectos para se emitir uma opinião relativamente a este assunto. “Se falarmos de flexibilidade de horários e de segurança, entre outros factores, é óbvio que o centro comercial aparece na linha da frente. Contudo, em termos de rentabilidade a loja de rua revela valores mais apetecíveis. As ópticas existentes em centros comerciais apresentam por norma menores receitas, devido às rendas elevadíssimas e aos custos com os funcionários”.


Luís Duarte, responsável de franquias do norte de Portugal da cadeia Alain Afflelou, partilha esta opinião. Destaca que “o grande comércio afecta de certa forma as lojas de rua. Apesar dos custos acrescidos, se o centro comercial possuir uma boa localização as suas lojas poderão ser tão rentáveis como na rua, até porque o tráfego de pessoas revela-se com certeza superior num grande espaço comercial”. Além disso, “o fluxo de clientes está igualmente relacionado com o tipo de produto que procuram. A venda de óculos de sol e a consulta de contactologia é maior no centro comercial, mas a aquisição de artigos por receituário assume-se superior na rua, devido à confiança que os consumidores depositam no seu óptico”, explicou Emídio Rodrigues.

 

Modernizar para vencer


Em traços gerais, as tendências do consumo actual indiciam a importância da permanente inovação e modernização na actividade comercial. Estes valores envolvem uma reformulação constante nos serviços ao consumidor, nos formatos comerciais e de gestão. Contudo, se por um lado o comércio tradicional, na sua globalidade, apresenta grandes carências em relação à adaptação às mudanças, que lhe impedem de competir com as grandes superfícies comerciais, por outro defende-se a aposta nas mais-valias que este possui.


Estas assentam, entre outras, no atendimento personalizado, como revela Maria Adelaide Penedo. “É natural que qualquer abertura de nova loja, em centro comercial ou não, deverá provocar alguma divisão de clientela com os restantes espaços da mesma actividade. No entanto, vendo por outro prisma, a clientela de rua está com certeza mais fidelizada à sua loja tradicional”. Também Jorge Boldt, da Óptica Cacia, acredita que “os centros comerciais não prejudicam o comércio retalhista, se mantivermos a qualidade do produto e a excelência no atendimento”.


A inércia e o adormecimento de toda esta problemática devem ser evitadas a todo o custo. Os comerciantes retalhistas podem até encarar esta questão como um desafio e apostar na inovação e diferenciação do serviço prestado. Com a transformação dos estabelecimentos, os lojistas tradicionais reforçarão a competitividade e consolidarão as suas posições no mercado. “Temos que nos adaptar a esta nova realidade. Os centros comerciais representarão sempre uma ameaça, mas trata-se de um género de comércio que contribuirá para a evolução das lojas de rua. Deste modo, ficamos mais atentos ao mercado, não adormecemos”, destacou João Antunes, da Antunes Oculista, no Seixal.

De facto, devido às suas características intrínsecas, o sector do pequeno comércio retalhista precisa de encontrar o seu lugar com imaginação, ousadia e sentido de oportunidade. Neste sentido, José Pedro Lourenço da Óptica Boavista inovou e arroga-se pioneiro na criação de “uma loja de rua com a filosofia de centro comercial”, com o intuito de responder às mais diversas necessidades. O proprietário da maior óptica da Europa revelou que “com o aparecimento dos grandes grupos internacionais e com a transformação constante do mercado, tinha que enveredar por uma linha de negócio distinta. Criei portanto uma loja espaçosa e confortável, que prima pela oferta extensa de artigos e pelo ambiente imponente”.

24 Novembro 2009
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