“A autonomia dos daltónicos”

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ÓpticaPro: O código ColorAdd nasce do desejo de mudar algo na sociedade…

Miguel Neiva: Sim, de facto tive um grande amigo daltónico na infância que constantemente sofria com a chacota dos colegas. Esta situação pesou muito na criação do ColorAdd. O projecto arrancou, em definitivo, com a minha tese de mestrado em Design e Marketing, integrado na componente têxtil. Aproveitei para criar uma ferramenta, que cresceu além da aplicabilidade original no vestuário e é hoje útil para a sociedade, em diferentes valências com vantagens acrescidas na educação, saúde e transportes. Espero que o ColorAdd venha a representar a autonomia e integração social dos daltónicos.


 


OP: Como funciona o código em termos técnicos?


MN: Qualquer código baseia-se em dois factores importantes: a forma e a cor. Como os daltónicos não percepcionam a cor, a forma tem forçosamente que a representar. Neste sentido, criei uma série de símbolos que, conjugados, representam as diferentes cores. A base assenta em três símbolos principais, associados às tonalidades primárias, que interpretarão todas as cores quando “casados” com outros. Acrescentei ainda duas imagens para o preto e para o branco, que formam os tons claros e escuros, completando assim a paleta. Este sistema torna-se num jogo mental, que relaciona de maneira fácil as cores e os seus desdobramentos. Além disso, deste modo evito o “peso” ou conotação negativa que qualquer solução menos “secreta” acarretaria. Por exemplo, o cego “carrega” uma bengala e o deficiente motor, uma cadeira de rodas. Como o daltonismo constitui uma limitação invisível, o daltónico continua disfarçado na sociedade através do ColorAdd.


 


OP: O projecto terá, então que ser assumido pela sociedade em geral, para que o daltónico continue invisível…


MN: Estou há quase dois anos a trabalhar na sua implementação. Preciso do apoio da comunicação social e da acreditação de algumas entidades importantes à divulgação deste projecto. O ‘site’ www.coloradd.net e uma página no facebook possibilitam uma comunicação informal do trabalho desenvolvido. Além disso, tenho “corrido” o mundo a apresentar o ColorAdd. Há pouco tempo, participei no Congresso Mundial da Cor, em Sidney, e o ‘feedback’ da comunidade científica ligada a esta temática foi espantoso. Acredito, portanto, que o ColorAdd vingará.


 


 


OP: Esteve com o projecto em mãos cerca de oito anos. Como se desenvolveu todo o processo?


MN: Comecei por estudar, com o apoio de oftalmologistas, a incapacidade em si, ou seja, as alterações oculares ou neurológicas que provocam o daltonismo. Depois indaguei acerca dos problemas efectivos dos daltónicos, enquanto cidadãos. Finalmente, aproximei-me da realidade destas pessoas com o lançamento de um questionário na internet, onde recebi contactos de todo o mundo. A conclusão que se impõe é que o daltónico sofre em silêncio por não se integrar na sociedade, dependendo de terceiros para a realização de tarefas quotidianas simples. A última pergunta do inquérito incidia sobre a solução do problema. Cerca de 20 por cento dos inquiridos referiram a criação de um código. Estas opiniões validaram a necessidade do ColorAdd.


 


OP: E de que forma aplica o ‘design’ a este sistema?


MN: O ‘design’ existe em tudo, já que o conceito e o método que o consituem são transversais a todos os quadrantes da sociedade, independentemente do local, cultura, língua ou religião. Neste projecto em específico, tive que me conter nas partes materiais e visuais do código, onde normalmente o artista consegue espelhar a sua capacidade criativa. Se tornasse os símbolos demasiado complexos, deixariam de ser perceptíveis, pois dirigem-se a cerca de 10 por cento da população masculina mundial, que é a representatividade actual dos daltónicos.

19 Janeiro 2010
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