Óculos: hoje igual ao passado?

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A moda pode comparar-se com a época da adolescência, em que tudo muda à velocidade da luz. Vivem-se novas experiências, acumulam-se estados de alma, atravessam-se períodos de transição e descoberta. Procura-se entender a mescla das emoções, enfrenta-se um período de conflitos e expectativas. As mudanças reflectem-se no corpo e nos sentimentos. Convoca-se facilmente a distracção e a aventura, entregando-se de modo espontâneo às paixões.

Também o universo da moda desfruta destas sensações de liberdade e experiências sem limites. Ao longo dos tempos, a forma de ser e de estar alterou-se significativamente. Fruto de constantes inovações e desenvolvimentos técnicos na área da criação, as tendências caracterizaram pessoas, costumes e períodos da história. A moda compôs-se sempre de variados estilos, influenciados por diversos aspectos. Acompanhou as épocas, constituindo um fenómeno sociocultural de expressão de valores intrínsecos da sociedade. A cada dia que passa, o mundo da moda surpreende. No entanto, tudo não passa de um ciclo. A moda nasce, cresce, reproduz-se, mas nunca morre, pois reencontra-se novamente mais tarde, em outros tempos. De facto, desde o início do século XX até aos dias de hoje, fez-se e refez-se moda. E cada década teve o seu cunho especial.


Nos anos ‘20, a moda já estava livre dos espartilhos do século anterior. As saias mostravam mais as pernas e, na maquilhagem, a tendência baseava-se na pele branca, no batom carregado e na afirmação dos olhos. Também chamada a era do ‘jazz’, a década de ‘20 foi a época de Hollywood e a maioria dos estilistas da altura, como Coco Channel e Jean Patou, criou roupas para grandes estrelas.


Mais tarde, nos anos ‘50, as mulheres tornaram-se mais femininas e esplendorosas. A cintura era bem marcada e usavam-se saltos altos, luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias. Esta silhueta manteve-se como base para a maioria das criações daquele período. Christian Dior liderou a agitação das novas tendências que surgiu a cada estação. Nestes anos, a alta-costura viveu o seu apogeu e deu-se a explosão dos cosméticos.


A década seguinte começava com grandes mudanças ao nível do comportamento. Com o aparecimento do ‘rock’ e do seu maior símbolo Elvis Presley, a imagem dos jovens baseava-se no blusão de cabedal, no ‘top’ e nos ‘jeans’. Em motas ou lambretas, mostravam uma rebeldia ingénua em sintonia com os ídolos do cinema, como James Dean e Marlon Brando. As meninas bem comportadas começaram a abandonar as saias rodadas de Dior e surgiam de calças ‘cigarette’, num anúncio à liberdade. A grande vedeta dos anos ‘60 foi, sem dúvida, a mini-saia.


A moda da década de ‘70 continuou revolucionária, com experimentação constante de materiais, cores, formas e texturas. Os homens deixaram de ser formais e adoptaram um toque colorido e psicadélico. As mulheres tornaram-se românticas e despojadas, com cabelos desalinhados, saias longas ou curtíssimas, estampados florais ou multicolores. Além disso, apareceram as calças com boca-de-sino e os sapatos plataforma para ambos os sexos. Foi a época do Festival de Woodstock, do movimento ‘hippie’ e da “onda disco”.


Ao chegarem os anos ‘80, o exagero e a ostentação assumiram-se como marcas registadas. As séries televisivas, como Dallas, mostraram mulheres irreverentes cobertas de jóias. Os ‘yuppies’, jovens executivos desejosos de poder e ‘status’, formaram um movimento e construíam um estereótipo. Por outro lado, as calças de ganga banalizaram-se e atingiram nesta altura o seu auge.


Em pleno século XXI, há quem defenda que a moda se resume a uma mistura de estilos. Mais do que pertencer a uma certa “tribo” ou possuir uma determinada tendência, actualmente as pessoas procuram uma identidade própria. Aliam características diversas e mudam repentinamente se assim o desejarem. De acordo com o estilista e professor universitário João Braga, “não há um nome específico para identificar o período actual da moda. Alguns definem-no como plural, outros como híbrido e há ainda os que preferem chamá-lo de pós-moderno”. Para o artista, dentro destas modalidades, destacam-se a releitura (fazer algo novo inspirado no passado), ‘vintage’ (basear-se no que tinha sido expressão de moda anteriormente), customização (criar um produto de acordo com a vontade das pessoas, ou seja, personalizado) e ‘cross over’ ou ‘cross culture’ (misturar várias referências culturais ou temporais). Assim, a moda reinventa-se e prima pela diferenciação, de forma a afastar-se da identidade colectiva e responder aos anseios de cada um.


 


E os óculos?


Também a moda ‘eyewear’ sofreu rasgos de inovação e metamorfose ao longo dos tempos. Há quem diga que usar óculos hoje em dia está na moda, mas esta tendência já foi um problema para muita gente. Antigamente, existia pouca variedade de armações e os modelos nem sempre combinavam com o formato do rosto de quem precisava corrigir um defeito de visão. Isso agora acabou. O material e a tecnologia de produção das lentes melhoraram, tornando-as mais finas, cómodas e resistentes e eliminando os assustadores “fundos de garrafa”. Em relação às armações, a preocupação de hoje reside na escolha da que mais se adequa a cada rosto, entre as inúmeras alternativas do mercado.


No seguimento desta temática, decidimos perscrutar tendências ‘eyewear’. A nossa análise incidiu precisamente nas diferenças existentes entre os óculos que se usam actualmente e aqueles que as pessoas preferiam há cinco anos atrás, quando nos instituímos no mercado. Posto isto, para a época actual, os profissionais do sector referem que as colecções ‘eyewear’ se deixam dominar pela globalização, através da mistura destemida de culturas e pela justaposição de texturas e cores. Porém, o ataque constante da modernidade impele igualmente a um regresso apaixonado às raízes e à natureza que nos alimenta. A terra-mãe surge como a maior inspiradora de formatos dinâmicos e realistas. Também a poesia apodera-se das mãos criadoras dos artistas de óculos, que difundem tons e recriam fantasias, materializando-as em ciência da mais avançada na área dos materiais.


Neste momento, “a moda está a revisitar o passado, mais precisamente as décadas de ‘20 e ‘30, ou seja, estamos a regressar aos modelos ‘vintage’. Já há cinco anos, as tendências eram mais tecnológicas e vanguardistas. De facto, a moda é um ciclo”, salienta Luís Justino, responsável da Proóptica. Paula Sá Miranda, da Óptica da Villa localizada em Carcavelos, concorda e refere que “agora impera um estilo ‘retro’ com óculos de formatos grandes. A cada dia que passa surgem mudanças que se inspiram em décadas anteriores. Mas, a grande diferença que noto em relação a anos anteriores é na atitude dos consumidores. Actualmente, as pessoas sabem exactamente o que procuram”.


António Nicolau, proprietário do Novo Oculista de Loures, e António Andrade, da Prismóptica de Espinho, partilham a opinião dos colegas. “O ‘design’ dos óculos de sol surge cada vez maior. Em relação às armações de prescrição, antes usava-se o formato rectangular e agora a moda regressa aos modelos redondos, típicos dos anos ‘20”, diz António Nicolau. “Hoje, as armações de sol avolumadas são sem dúvida as favoritas. E em termos de materiais, também se fazem notar as diferenças. Há cinco anos atrás, as massas e o metal imperavam, enquanto hoje sobressaem os óculos sem aros, mais simples”, refere António Andrade.


De facto, graças à inovação constante dos materiais, as novas armações assumem-se como mais leves, flexíveis e duráveis. Os modelos em titânio e níquel tornam-se comuns nas lojas. Além disso, os sistemas de dobradiças e de ponte têm evoluído de ano para ano. Tudo isto faz com os óculos assentem melhor no rosto e se adaptem a todos, pelo conforto que proporcionam. Manuel Pombinho, da Master Ópticas de Sines, esclarece aliás que “a preferência por um tipo de formato em detrimento de outro está relacionada essencialmente com o rosto e o gosto de cada um. É claro que as tendências mudam, mas na minha opinião os óculos Ray-Ban estão sempre na moda, porque se ajustam às diversas necessidades que surgem”.


A questão das marcas entra de forma bastante oportuna nesta análise, já que constituem as grandes ditadoras das tendências. “Na realidade, são os manequins das passarelas que lançam a moda. Nós adquirimos essas informações e depois vemos se os consumidores “pegam” nelas”, graceja o proprietário da Master Ópticas. José Maria Rodrigues da Sociel revela que “houve um período em que as pessoas viviam mais a “febre” das marcas, procuravam exactamente uma determinada insígnia. Hoje em dia, com a contrafacção e a banalização dos produtos, os consumidores procuram somente óculos de qualidade comprovada, independentemente da sua marca”.

Apesar das opiniões unânimes, e da certeza de que as tendências de óculos mudaram em cinco anos, Maria Adelaide Mesquita, salienta que “não observo grandes diferenças nas preferências dos consumidores nos últimos anos”. A responsável da Íris Óptica, sedeada em Coimbra, clarifica aliás que continua “a vender produtos que negociava há quatro décadas atrás. Tudo depende dos gostos de cada um”. O parecer da empresária da cidade conimbricense revela assim que a moda é evidentemente um ciclo. Inventa-se e reinventa-se, revisitando sempre o que já se criou o que marcou outros tempos.

7 Janeiro 2010
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