“Investe-se pouco na formação”
ÓpticaPro: O seu envolvimento com o associativismo na área da óptica contradiz um pouco a tendência generalizada, em que cada profissional se vira para “dentro”. Porquê esta atitude?
José Benzinho: Porque acredito que só com uma união forte podemos evoluir enquanto classe profissional. Temos de ter regras claras de operacionalidade no mercado, para garantir ao consumidor a qualidade do serviço e dos produtos. Actualmente o único “regulamento” do sector existe através da Associação Nacional do Ópticos (ANO), a que se associa, somente, quem reúne determinadas condições.
OP: Como delegado da ANO, é responsável por conferir se estas condições se cumprem…
JB: De facto, sou chamado a vistoriar as condições técnicas do candidato a associado, se está habilitado a exercer as funções e ainda se tem equipamentos suficientes. E como sou muito exigente com os requisitos exigidos, fui convidado, adicionalmente, a colaborar na formação de técnicos de óptica. Aceitei sem reservas, pois deste modo levo a cabo uma das minhas missões, que passa pela proliferação de profissionais de óptica mais competentes.
OP: A sua carreira enquanto óptico descreve um longo percurso. Fale-nos do projecto Óptica Berna.
JB: Iniciei o projecto em 1997, fruto da ambição antiga de me estabelecer por conta própria. Aguardei a melhor localização e um espaço com dimensão mínima para a loja que tinha em mente. Graças ao apoio de colegas e fornecedores, que acreditaram na minha capacidade de levar avante a Óptica Berna, consegui singrar. Ainda hoje quando tenho de fazer escolhas comerciais, esta dívida de gratidão, pesa sempre a favor destas pessoas.
OP: Desde que se iniciou no sector aconteceram graves alterações à estrutura desta área, nomeadamente o aumento exponencial de estabelecimentos. De que maneira isto influenciou o seu negócio?
JB: Disse bem! Graves alterações, não tanto pelo aumento do número de ópticas, mas sim pelo decréscimo de qualidade na execução técnica e aconselhamento da melhor solução ao cliente. Estamos a disponibilizar uma prótese de bem-estar e conforto. Como tal, o rigor e profissionalismo são fundamentais para a satisfação plena do consumidor. Com a abertura de tantos pontos de venda, noto que a gestão comercial supera a qualidade do serviço. Investe-se pouco na formação de activos e deixam-se passar erros de execução técnica. Tudo com o objectivo de reduzir custos. Estes factores pesaram no meu negócio, admito. Senti que o factor preço começou pesar no argumento de venda. Deste modo, ajustei-me. Estabeleci parcerias com entidades, acordos de fornecimento com condições mais vantajosas, pactos com fornecedores para campanhas de determinados produtos em algumas épocas e ligações com entidades bancárias, para facilitar o pagamento dos meus clientes. Todas estas acções associadas à qualidade que defendo foram suficientes para fazer face à nova realidade.
17 Fevereiro 2010
Entrevistas